Pesquisadores da Universidade do Texas de Austin descobriram que quando as rãs tungara machos fazem serenatas às fêmeas em uma lagoa, elas criam ondulações na água que fazem com que elas sejam mais facilmente atingidas por seus rivais e predadores, como os morcegos, por exemplo.
Uma rã tungara vai parar de vocalizar se ele ver um grupo de morcegos, mas as ondulações continuam movimentando a água por muitos segundos após o animal cessar o canto. Nesse estudo, publicado recentemente no jornal da Science, pesquisadores encontraram evidências de que os morcegos usam a ecolocalização - uma forma natural de som - para detectar essas ondulações e os abrigos onde estão as rãs. A descoberta lança luz sobre uma corrida armamentista evolucionária em curso entre rãs e morcegos.
A rã macho tungara (Physalaemus pustulosus), nativo da América Central e do Sul, passa suas noites vocalizando em lagoas rasas na busca por um acasalamento. No entanto, seu canto que é baseado sobre um padrão de "lamentações e cacarejamentos", inadvertidamente cria uma exposição multisensorial que pode ser explorada por amigos e inimigos.
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Figura 1: as ondulações perduram por muitos segundos após a rã macho tungara (Physalaemus pustulosus) ter parado de vocalizar. Foto: Ryan Taylor. |
Quando o canto amoroso dos anfíbios é realizado, o saco vocal deles infla e desinfla continuamente, como um balão pulsante. Esse saco pulsante cria uma dica visual, mas também cria um terceiro sinal - ondulações na superfície da lagoa.
"Um tema geral desta pesquisa é que a nossa forma de se comunicar com qualquer tipo de sinal é realizada pela criação de uma perturbação no meio ambiente", diz Mike Ryan co-autor do estudo e professor no Departamento de Biologia Integrativa da Universidade do Texas de Austin. "Quando nós vocalizamos, causamos mudanças na pressão do ar em torno de nós e isso é o que nós ouvimos. Quando usamos sinais visuais, a luz refletida, seja qual for o pigmento que estamos utilizando, é transmitida para o receptor. Qualquer coisa que fizermos perturba o ambiente, seja voluntariamente como um sinal de comunicação ou não.
Os pesquisadores descobriam que os morcegos predadores de rãs (Trachops cirrhosus) era muito mais propensos a atacar uma rã que vocalizasse duas vezes e tivesse ondulações irradiando a partir dele do que as rãs que vocalizasse e não produzisse ondulações (figura 2). Isso sugere que eles podem detectar essas ondulações, muito provavelmente pela ecolocalização. Entretanto, morcegos parecem perder essa vantagem se a área em torno do sapo estiver cheia de serrapilheira, o que pode parar as ondas de propagação.
Figura 2: Morcegos utilizam ondulações induzidas pelo canto para caçar rãs. (A) Morcegos predadores de rãs realmente utilizam a ecolocalização para caçar suas presas. A superfície da água reflete altamente os sinais da ecolocalização, mas o retorno da eco (setas azuis) depende fortemente do ângulo entre a propagação do sinal (linhas vermelhas) e a superfície da água. (B) Espectográfico, exemplo de um sinal de ecolocalização de morcegos, com o tempo no eixo X e a frequência no eixo Y. (C) Eco imagens derivadas do ar produzidas por um sonar sintético submetido a diferentes ângulos para testar o "pool". A amplitude do eco diminui de acordo com a redução dos ângulos. (D) Perturbação na superfície da água durante ondulações de playback produziram altas variâncias na amplitude do eco, maiores do que na superfície controle. (E) Resultados de um teste de duas escolhas com morcegos, mostrando a preferência dos morcegos em atacar os pools experimentais com ondulações. (F) A preferência por ondulações depende das condições ambientais. Quando ambos os locais foram cobertos com uma camada de folhas (serrapilheira ambiental), a preferência desapareceu.
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Por outro lado, as ondulações parecem aumentar a resposta de rãs machos rivais ao canto inicial. Os pesquisadores descobriram que quando um canto foi acompanhado de ondulações, outras rãs machos foram mais propensos a responder do que se a vocalização foi transmitida por si só. Além disso, quando eles respondem, eles também respondem com mais entusiasmo.
Se um canto acompanhado por ondulações na água estava fora da zona de defesa dos machos, um círculo de 15cm ao redor, machos rivais vocalizaria mais de duas vezes mais rápido do que se eles apenas escutassem o canto inicial por si só. Se o canto, novamente com ondulações, estava dentro do seu território, as rãs rivais tendem a vocalizar menos, muitas vezes parando completamente e esvaziando seus sacos vocais, supostamente se preparando para vocalizar novamente ou correr.
Fonte: W. Halfwerk, P. L. Jones, R. C. Taylor, M. J. Ryan, R. A. Page. Risky Ripples Allow Bats and Frogs to Eavesdrop on a Multisensory Sexual Display. Science, 2014; 343 (6169): 413 DOI: 10.1126/science.1244812.
Confira o artigo na íntegra acessando este link: https://www.sciencemag.org/content/343/6169/413.full.pdf.
Grande abraço, espero que goste da síntese do artigo. Deixe seu comentário.
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